Poder e relação de poder nas organizações

José Henrique de Faria

José Henrique de Faria

A obra estudada de Faria tem como objetivo principal examinar alguns enfoques conceituais clássicos sobre poder, buscando levantar seus aspectos relevantes no marco dos estudos organizacionais, fazer uma análise crítica dos mesmos, com o intuito de formular um conceito que possa, concomitantemente, suprir as necessidades da análise no âmbito tanto organizacionais quanto das práticas sociais.

O autor analisa seis enfoques acerca do poder:

  • O enfoque do comportamento humano: analisada em duas correntes neste texto, a saber:
    • Influenciada pela corrente Behaviorista: desenvolver um estilo de poder baseado na personalidade e nos desejos de cada um, já que é a ânsia do poder que mantém as pessoas trabalhando; e
    • Baseada nos estudos de Vygotsky: os interesses de um grupo social ou sua ideologia, têm origem apenas em suas relações com outros grupos, seja do ponto de vista do confronto ou das alianças;
  • O enfoque weberiano: o poder pode se encontrar apropriado em todas as suas qualidades e em todos os seus graus (plenos poderes de direito próprio), ser atribuído a alguém que possua determinadas características (temporais ou permanentes), ser outorgado pode determinados atos de participantes da relação social ou de terceiros temporais ou permanentes (plenos poderes outorgados);
  • O enfoque sistêmico-funcionalista: a sociedade comporta relações de equilíbrio e interação, de forma que seus elementos constitutivos (sistemas) operam segundo uma lógica natural, em que seus componentes internos estabelecem arranjos (funções) que promovem sua ação interativa com os demais componentes do sistema;
  • O enfoque organizacional: este enfoque teve sua apresentação fundamentada em sete autores:
    • Michels: trata o poder como um privilégio cuja manutenção exige toda sorte de artimanhas, sendo este ligado a uma estrutura de dominação, seja de um indivíduo, seja de um grupo, provocado pela apatia das multidões e pela necessidade que têm de serem guiadas.
    • March e Simon: trata do poder do ponto de vista da absorção do ambiente de incerteza no processo decisório, razão pela qual é empregada como técnica de conquistar e exercer o poder. Quanto maior for o controle das variáveis de incerteza pelo indivíduo ou pela organização, maior será seu poder, sendo fundamentais o domínio e os investimentos destinados a desenvolver o domínio de técnicas e de conhecimento técnico.
    • Thompson: refere-se à essencialidade da empresa com relação ao seu ambiente e sua forma de poder, sendo que “uma empresa tem poder em relação a um elemento de seu ambiente operacional na medida em que a empresa tem capacidade de satisfazer necessidades desse elemento e na medida em que essa organização monopoliza tal necessidade”.
    • Friedberg: para este autor não há ação social sem poder, sendo que poder supõe uma estruturação de campo, uma regulação dos comportamentos dos atores implicados, resultando, portanto, em uma relação de troca, em um jogo com regras definidas que regulam a ação.
    • Foucault: estuda o poder como prática social historicamente determinada, sendo que não existe para ele uma teoria geral do poder, pois ele aparece de diferentes formas no curso da história. Foucault estuda as relações de poder a partir de três aspectos principais: o suplício, a punição e a disciplina.
    • Mills: introduz o conceito de poder como soma zero, pois, em sua proposta, o poder é considerado uma quantidade determinada invariante no interior de uma sociedade ou instituição em que ninguém ou nenhum grupo teria mais poder sem que para isso outra(s) pessoa(s) ou grupo(s) tivesse(m) perdido o(s) seu(s) poder(es).
    • Galbraith: procura identificar o interrelacionamento complexo entre as fontes do poder (personalidade, propriedade e organização) e os instrumentos ou atributos (poder condigno, compensatório e condicionado) pelos quais ele é exercido.
  • O enfoque marxista: coloca o poder como um produto da necessidade histórica, levando o essencial de sua análise para a relação de classes, com base em três estruturas: a econômica, a política e a subordinação ideológica;
  • O enfoque da psicossociologia/sociologia clínica: que procura integrar uma determinada sociologia crítica a uma psicologia de bases freudianas, relacionando o indivíduo/sujeito ao seu ambiente social, seja ele institucional, organizacional ou grupal, sendo a instituição o que exerce o poder sobre a psique e as condutas.

Na análise crítica que segue a apresentação das teorias, o autor levanta aspectos positivos e limitações/equívocos (principalmente) dos estudos dos autores supracitados, e ao final elabora uma lista de destaques sobre alguns aspectos pertinentes acerca do poder:

  • O poder é uma capacidade e não um atributo;
  • O poder não pertence a um indivíduo nem é exercido por um indivíduo, mas por uma instância coletiva;
  • O poder para ser efetivo implica, necessariamente, seu exercício;
  • O exercício do poder não se esgota em relações de dominação, sendo correto considerar os conflitos como parte de sua prática;
  • O poder não se encontra em um lugar definido, mas é exercido através de determinados lugares, daí a razão pelas lutas políticas para ocupação destes lugares.

Por fim, o autor propõe sua definição de poder, qual seja “a capacidade que tem uma classe social (ou uma fração ou segmento), uma categoria social ou um grupo (social ou politicamente organizado) de definir e realizar seus interesses objetivos específicos, mesmo contra a resistência ao exercício desta capacidade e independentemente do nível estrutural em que tal capacidade esteja principalmente fundamentada” e faz uma análise/defesa das partes que o compõem.

Dúvidas ou sugestões, entre em contato.


Referência

FARIA, José Henrique de. Poder e relações de poder nas organizações. In: VIEIRA, Marcelo Milano Falcão; CARVALHO, Cristina Amélia (Orgs.). Organizações, instituições e poder no Brasil. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2003. Cap. 3.


Resumo confeccionado durante o programa de mestrado da UDESC/ESAG

Disciplina: Estudos Organizacionais
Professor: Dr. Mauricio C. Serafim