Teoria crítica e pós-modernismo: principais alternativas à hegemonia funcionalista

Marcelo M. F. Vieira

Marcelo M. F. Vieira

Miguel Pinto Caldas

Miguel Pinto Caldas

Os autores colocam que os estudos críticos e pós-modernos surgiram como uma alternativa aos estudos positivistas e funcionalistas aos quais se apoiavam os estudos organizacionais até o momento e faz uma apresentação a essas duas novas tendências.

Sobre a Teoria Crítica, o autor a divide em dois momentos: os conceitos de teoria e prática por um lado e, por outro, a origem e os desdobramentos contemporâneos.

A base da teoria crítica é dado pelo seguinte postulado: “é impossível mostrar as coisas como realmente são, senão a partir da perspectiva de como elas deveriam ser” (p. 294), sendo que este “dever ser” é caracterizado por como as coisas seriam caso suas potencialidades fossem concretizadas, cuja análise permitiria “entender mais claramente como o mundo funciona, e dessa forma identificar os obstáculos à realização das suas potencialidades” (p. 294)

Com relação à prática da teoria crítica, o autor distingue dois grupos: o dos agentes contra a realização das potencialidades (mantenedores dos obstáculos) e os a favor da realização das potencialidades (superadores de obstáculos).

Para explicar a origem dos estudos da teoria crítica, o autor se vale dos escritos de Wacquant (2004), que relaciona duas vertentes: Kant, no que diz respeito à avaliação de categorias e formas de conhecimento; e Marx, ligado à análise da realidade sócio-histórica, expondo a dominação e a exploração que a definem.

Desta feita, a função da teoria crítica, na visão dos autores, é “examinar o mercado e suas relações à luz da emancipação, que significa a busca da realização concreta da liberdade e da igualdade” (p. 296), sob dois princípios básicos: (i) orientação para a emancipação do homem na sociedade; e (ii) manutenção de comportamento crítico.

Para os autores, o primeiro grande desafio relacionado aos estudos pós-modernos é sua definição e o fazem dizendo que o “pós-modernismo corresponde a um movimento teórico multidisciplinar que vai da filosofia à estética, envolvendo as artes e a sociologia e chegando ao campo dos estudos organizacionais” (p. 299), sendo base comum a resistência à modernidade e a crítica à razão iluminista.

Alguns elementos colaboraram com o surgimento dos estudos pós-modernos, como a globalização, o relativismo e o pluralismo, a espetacularização da sociedade, a cultura de massa, o papel do indivíduo na sociedade e a comoditização do conhecimento.

Porém, há um grupo significativo de autores que não entendem ser a pós-modernidade uma ruptura com a modernidade e, sim, um estágio tardio da modernidade.

A tendência nos estudos pós-modernos é a argumentação que “a racionalidade é muito mais difusa do que o Iluminismo supunha, e que o conhecimento apenas pode ser entendido à luz do tempo, espaço e contexto social em que é construído por indivíduos e grupos” (p. 300).

Nos estudos organizacionais, a origem dos estudos pós-modernos é europeia, particularmente dos teóricos  de tradição pós-estruturalista e por críticos da tradição positivista em sociologia e em estudos organizacionais.

Os estudos, metodologicamente, se sustentam na análise de discursos e narrativas e nas análises genealógicas e historigráficas.

Os autores relacionam quatro áreas em que os estudos pós-modernos têm se destacado nas organizações: (a) teorias feministas (ou de gênero) pós-estruturalista; (b) análises pós-colonialistas; (c) teoria ator-rede (teoria da translação); e (d) análise desconstrutiva de discursos e narrativas sobre conhecimento.

Ao final da apresentação do conteúdo sobre os estudos pós-modernos, os autores apresentam uma série de críticas que estes têm recebido, tais como:

  • Que o movimento não passa de um aglomerado de descontentamentos e argumentos que têm entre si apenas a insistente antipatia ao modernismo e aos projetos iluministas;
  • A negação em aceitar a ideia de ruptura de uma época moderna para uma pós-moderna;
  • O questionamento sobre a ausência de uma proposição ou contribuição positiva que derive da “desconstrução” pós-modernista;
  • A argumentação de que os teóricos pós-modernistas pouco têm a oferecer simplesmente porque não teriam muito a dizer.

Em suas considerações finais, com relação à teoria crítica, os autores consideram sua utilidade à Administração em geral, principalmente por seu viés de emancipação do homem, em direção a sua sociedade melhor e mais justa pois, em sua visão, somente a crítica é capaz de “produzir reflexividade e conduzir ao avanço acadêmico” (p. 304).

Com relação ao pós-modernismo, eles o reconhecem como validador de metodologias e a pertinência de aspectos como a explicitação do propósito e do contexto em que os estudos são conduzidos, não deixando de apontar os dilemas acerca destes estudos, tendo que analisar a efetiva emancipação ou suposta liberdade do homem.

Ao final, reforçam que “as alternativas mais radicais que se colocam hoje em dia ao funcionalismo em análise organizacional são ao mesmo tempo diversas e multifacetadas, mas também carregam […] seus próprios dilemas e limitações” (p. 306).

Dúvidas ou sugestões, entre em contato.


Referência

VIEIRA, Marcelo M. Falcão; CALDAS, Miguel Pinto. Teoria crítica e pós-modernismo: principais alternativas à hegemonia funcionalista. In: CALDAS, Miguel P.; BERTERO, Carlos Osmar (Coord.). Teoria das organizações. São Paulo: Atlas, 2007. Cap. 13, p. 291-311.


Resumo confeccionado durante o programa de mestrado da UDESC/ESAG

Disciplina: Estudos Organizacionais
Professor: Dr. Mauricio C. Serafim