Relembrando Malthus

Antes de iniciar este post, cabe uma breve explicação. Este post não traz respostas prontas. Ele suscita questionamentos acerca do mercado de trabalho, empregabilidade e gestão de negócios e nações em geral, sem apontar dedos e nem dizer quem está certo ou errado.

As considerações e observações aqui colocadas partem, única e exclusivamente, da percepção do autor e as influências que recebe a partir das leituras que faz. São abordados neste texto, questões referentes ao equilíbrio (ou não) entre oferta e demanda de empregos, olhadas pelos espectros das pessoas e das empresas, a partir de alguns pressupostos.

E, antes que perguntem, sim, acredito no capital, na meritocracia, no desenvolvimento pessoal técnico e acadêmico, na busca por (ou criação de) oportunidades; e defendo a menor intervenção do Estado em tudo.

Pressupostos

O primeiro pressuposto deste texto é que deveria haver um equilíbrio entre oferta de empregos e pessoas para ocupá-los em um cenário ideal, para que houvesse o Pleno Emprego, de ambos os lados, isto é, todas as pessoas economicamente ativas empregadas e todas as posições disponíveis ocupadas.

Como não existe um cenário ideal, há, constantemente, um descompasso entre a quantidade de vagas disponíveis e as pessoas a ocupá-las que, ultimamente, pelo mundo inteiro, tem parecido ter pendido para a escassez de posições a serem ocupadas, aumentando, consideravelmente, o desemprego nas economias mundiais.

O segundo pressuposto é que as empresas empregam as pessoas para que elas produzam bens que serão comprados por elas mesmo com o dinheiro que ganham da empresa, bem como produtos de outras empresas pois as necessidades humanas não são únicas.

Sobre este pressuposto, cabe lembrar que, se a empresa está em uma posição intermediária da cadeia produtiva, espera-se que o funcionário compre o produto final, mantendo a cadeia ativa, bem como a sustentabilidade econômica da empresa.

Nesta balança, então, encontram-se dois “personagens”: a força de trabalho (os trabalhadores) e os postos de trabalho (as empresas) e é sobre estes que passo a tecer algumas considerações que levam a alguns questionamentos.

Há um terceiro lado nesta história, que é o Governo, o Estado. Após as considerações sobre as empresas e os trabalhadores, estão presentes as considerações acerca deste player e sua importância, na perspectiva do autor, no equilíbrio do sistema, de forma bem superficial.

O equilíbrio entre mercado de trabalho e oferta de mão de obra possui ainda um terceiro elemento, o Estado.

O equilíbrio entre mercado de trabalho e oferta de mão de obra possui ainda um terceiro elemento, o Estado.

Pelo lado das empresas

Fábrica da Hiunday (Piracicaba)

Fábrica da Hiunday (Piracicaba)

Por definição, as empresas tendem a procurar produzir mais com menos, aumentando sua produtividade, reduzindo seus custos, mantendo (ou aumentando) suas receitas e lucratividade, o que é bom para sócios e acionistas.

Para tanto, as empresas têm aumentado a automatização de seus processos, reduzindo a necessidade de pessoas no processo produtivo.

Há, também, um aumento considerável e constante na concorrência entre empresas, através da entrada de novos players no mercado, aumentando a oferta de produtos no mercado.

A automatização aumenta a produtividade, mas diminui a necessidade de pessoas nas organizações, diminuindo a disponibilidade de vagas.

A automatização dos processos, também, contribui para a produção em série acelerada de produtos, colocando mais produtos no mercado, não necessariamente em preços menores, o que facilitaria seu escoamento pelas vias normais e a não “devolução” de produtos encalhados nos pontos de venda.

Dado o aumento da concorrência, também, acelera-se o Ciclo de Vida dos Produtos das empresas, que, por sua vez, lança mais versões ou modelos novos de produtos sucessivamente, incutindo a necessidade de atualização nos clientes (que também são funcionários) e a elaboração de estratégias de obsolescência programada que, em essência, são produtos com ciclos de vida estipulados (em determinado tempo, o produto para de funcionar ou de servir para uso).

A partir destas constatações, surgem-me as seguintes questões:

Questão 1: As empresas concorrentes surgem em velocidade necessária para absorver essa mão de obra excedente no mercado de trabalho?

Questão 2: Ocupando menos pessoas, não haverá menos pessoas ganhando salários para comprar os produtos das empresas?

Questão 3: A produção da empresa não está(ria) excessivamente alta para os padrões de consumo atuais?

Questão 4: As empresas pensam em estratégias de logística reversa e/ou descarte dos produtos encalhados por não venda?

Questão 5: Dado o aumento da produtividade, não seria uma práxis adequada diminuir o preço dos produtos evitando seu encalhe?

Pelo lado dos trabalhadores

OperáriosA população mundial cresce constantemente. A expectativa de vida também, devido aos avanços da medicina, por exemplo, tanto recém-nascidos quanto idosos possuem mais chances de superar traumas e doenças e permanecer vivos por mais tempo.

Este avanço na expectativa de vida e aumento de pessoas no mundo faz com que a força de trabalho disponível no “mercado” aumente constantemente também, afinal de contas, as pessoas devem manter seu grau de receita para quitar seus compromissos e suprir suas necessidades.

Para tanto, devem manter ou aumentar sua empregabilidade, ou seja, sua condição de permanecer ou tornar-se funcionário de uma empresa qualquer que, haja vista as constatações anteriores, sofre constantes automatizações em seu processo produtivo.

Então, as pessoas buscam capacitação técnica para suprir o gap de conhecimento que o mercado de trabalho exige, tornando-se operadores capacitados a operar uma máquina específica.

Uma outra situação que ocorre é que as pessoas acabam aceitando condições menos vantajosas de contratação, o que diminui sua renda mensal – pessoal e familiar – diminuindo a demanda por alguns produtos e serviços no mercado, inclusive os da empresa onde ela trabalha, o que justificaria a exclusão de sua posição profissional, em prol da manutenção da produtividade e lucros almejados pelos sócios e acionistas.

A diminuição das condições de contratação, por vezes, vem atrelada a uma redução da escala de trabalho, ou seja, as pessoas trabalham menos horas por semana na função, o que no Brasil é gerido por um acordo entre empresa e empregado, o que seria salutar para a pessoa, pois afinal de contas, possui mais tempo para desfrutar em família e em lazer.

Estas constatações me levam aos seguintes questionamentos:

Questão 6: Está-se preparado para lidar com tantas pessoas no mundo?

Questão 7: Uma pessoa trabalha por 25 anos em uma posição extremamente operacional (torneiro mecânico) e, do nada, sua posição profissional – e a de outros operadores no mesmo nível – é trocada por uma máquina que faz o trabalho de todos eles, com maior eficácia. Tendo este profissional, na ocasião, 45 anos, o que ele deve fazer? Há posição profissional para ele reinserir-se no mercado de trabalho, dada a acelerada automatização dos processos? Ou ele deve se capacitar tecnicamente, elevar seu conhecimento?

Questão 8: A diminuição da renda média mensal é fonte de não compra e, portanto, não deveria ser evitada pelas empresas?

Questão 9: Há posições profissionais para todas as pessoas em idade produtiva no mundo?

Questão 10: O que fazer com o excedente de mão de obra não utilizado?

Sobre o papel do Estado

O Estado, qualquer que seja, deve se estruturar para que a livre iniciativa impere, para que haja condições de o desenvolvimento econômico aconteça de forma natural e orgânica. Deve suprir as condições de segurança pública, manter níveis de juros em patamares suportáveis, as condições para escoamento da produção – falando em termos de logística – e cobrar o mínimo possível de impostos, o que, de certa forma, garantiria, também, o não encalhe dos produtos através da possibilidade da prática de menores preços por parte das indústrias.

Desta forma, o menos é mais. Menos impostos geram maiores fluxos de compra, eliminam a possibilidade de uma recessão, aumentam a empregabilidade e o reequilíbrio entre oferta e demanda de produtos. Ganhar no giro do estoque (por exemplo, Fiat Palio) e não na unidade comercializada (por exemplo, Ferrari). O Estado não deve ser um produto com estratégia de Diferenciação, que lhe permite cobrar mais caro, mas sim, de Baixo Preço.

Tenho para mim que, quanto menores os impostos cobrados, maiores seriam as arrecadações, a partir dos conceitos da Curva de Laffer.

A partir disto, surgem os seguintes questionamentos:

Questão 11: Não há como empresas forçarem o governo para baixar e manter baixos impostos e taxas de juros?

Questão 12: O quão interessante é para as organizações que os impostos e juros estejam em níveis altos em determinado país? Por quê?

Relembrando Malthus

Thomas Malthus, economista britânico

Thomas Malthus, economista britânico

Todos estes questionamentos me fazem relembrar o economista britânico Thomas Malthus (1766-1834) que defendia que os bens (terras e alimentos) àquela época, sofriam uma progressão aritmética, isto é, cresciam de forma aritmética (2, 4, 6, 8, 10, …) e a população, crescia em progressão geométrica, ou seja, exponencial (2, 4, 8, 16, 32, …), causando desequilíbrio. Será?

Agora, temos uma progressão inversa: os bens disponíveis estão crescendo em progressão geométrica, as pessoas com capacidade (renda) para comprá-los está diminuindo aritimeticamente e, os preços não caem. Para quem estes produtores esperam vender? De onde virá sua sustentabilidade econômica?

O mais certo é que o mundo vive um momento de quebra de paradigmas. Desde a Revolução Industrial, no século XIX, está-se realizando as coisas do mesmo modo. Como diria o professor Julio Bin, com quem  tive aulas durante a especialização, “estamos dirigindo um carro [mundo] do século XXI, usando um chassis [fundamento] do século XIX”.

Não sei qual é a saída para isso. Muito ainda resta para ser pensado e elaborado, a começar pela respostas às questões levantadas, mas dada a situação do mundo, há certa dose de urgência no agir. Reuniões como o Fórum Mundial de Economia, G20, G8 e similares são ótimos para tirar fotos entre líderes mundiais, mas pouco têm adiantado em questões práticas.

Estamos vivendo um ciclo vicioso: empresas automatizando processos, em prol de aumento de produtividade, eliminando postos de trabalho o que reduz a renda média das famílias que não podem mais manter seu padrão de consumo, diminuindo os lucros das corporações.

Estamos vivendo um ciclo vicioso: empresas automatizando processos, em prol de aumento de produtividade, eliminando postos de trabalho o que reduz a renda média das famílias que não podem mais manter seu padrão de consumo, diminuindo os lucros das corporações.

Fica, então, a última questão do texto:

Questão Final: O que fazer para romper esse ciclo vicioso em que nos encontramos?

Consideração final

A título de consideração final, segue um conselho para os que se aventuram(rão) pelo mercado de trabalho.

Para tentar fugir da questão de desequilíbrio entre oferta e demanda de posições profissionais aprenda coisas únicas que sejam interessantes para uma – ou algumas – pessoas no mundo. Desenvolva sua “unique selling proposition”, sua proposta singular de venda, aquela característica especial que o/a destaque dos demais concorrentes.

Se para uma pessoa somente, aconselho agir com cautela. Esta sugará sua essência e lhe descartará, a não ser que mantenha-se em constante evolução. Se para um grupo de pessoas, há duas formas de atuação: leiloar sua força de trabalho, assim, “quem paga mais leva” (o que o leva, novamente a aplicar seu conhecimento para uma só pessoa) ou compartilhar seu conhecimento entre todos. Já diz o velho adágio popular: “Não coloque todos os ovos da galinha em um só cesto”.

Em minha opinião, esta é uma das saídas para a questão do desequilíbrio entre oferta e demanda de mão de obra: o fim do exclusivismo.

Mas esta é uma das respostas possíveis a um dos questionamentos realizados.

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