A conta que poucos fazem

Dinheiro BrasilDias atrás, durante a Pandemia COVID-19, me peguei explicando para o meu filho sobre a composição da distribuição da renda no Brasil e resolvi pesquisar a questão mais a fundo, fazer a conta que poucos fazem, com informações realmente válidas, de fontes seguras, para não disseminar conhecimento “viciado”.

Embasei meu estudo em duas fontes, a ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, que publica, anualmente o estudo denominado Critério Brasil, em que, a partir do PNAD faz a estratificação dos brasileiros em classes econômicas (não sociais) e na reportagem de Fernando Cymbaluk, para o UOL, intitulada “Família brasileira encolhe e cada vez mais gente mora sozinha, aponta IBGE”, publicada em 21/09/2012 que, mesmo com quase 10 anos de idade, foi realizada a partir dos números do último censo realizado no país e mostrou o tamanho médio das famílias em 3 indivíduos, valor que foi utilizado nos cálculos.

Esse rápido estudo, que consistiu na elaboração de uma planilha para condensar todas as informações, põe abaixo o argumento amplamente disseminado por uma série de pessoas que diz que “há concentração de renda entre os ricos”. Neste quesito, pode-se afirmar que a centralização de renda está no estrato B2, que concentra 27,36%, sendo as pessoas que têm renda média mensal em torno de 1.900 reais, apesar de possuir apenas 16,5% dos indivíduos, como mostra a tabela a seguir.

Tabela Análise Concentração Renda Brasil

Porém, não se pode negar que há, sim, um grande abismo econômico, principalmente no tocante à renda per capita no Brasil, com pessoas que possuem renda média mensal acima de 8 mil reais e outras cuja renda média mensal não perfaz 250 reais.

Mas a questão que quero trazer aqui não é a abissal diferença de renda que existe, mas o impacto dela na própria perda de poder de compra dessa já baixa renda média mensal.

Como é possível ver na tabela, as classes econômicas menos favorecidas (D-E) possuem participação de 28,3% dos indivíduos brasileiros, isto é, quase 58 milhões e 300 mil pessoas, com renda média mensal per capita próxima de 240 reais.

Essas pessoas são altamente dependentes de programas assistenciais, sejam eles federais, estaduais ou municipais. Porém, essas iniciativas só podem ser desenvolvidas e mantidas mediante contrapartidas, isto é, pagamentos. E, de onde vem o dinheiro dos governos federais, estaduais e municipais? Da cobrança de impostos. E impostos impactam, diretamente, no preço dos produtos nas prateleiras dos supermercados, por exemplo.

E é aí que eu queria chegar.

Essa pessoa, integrante dessas camadas mais sensíveis economicamente, pagam, proporcionalmente sobre sua renda, pelos impostos adicionados aos produtos, uma porcentagem muito maior do que um indivíduo da classe A. Por exemplo, pensemos em um refrigerante X, cujo preço de venda é R$3,00, com imposto de 33%, o que faz o custo de produção, grosseiramente falando, seja de R$2,00.

Com menor número de programas assistencialistas, esse imposto poderia ser reduzido a uma taxa de 25%, ou seja, o refrigerante X poderia ser vendido por R$2,50 ou menos ainda, pois, tal como na comercialização, a redução dos impostos incidiria sobre toda a cadeia produtiva, aí incluídos a produção dos vasilhames para venda, as matérias primas e os salários dos funcionários que o produzem, impactando, proporcionalmente, menos na renda dos indivíduos das classes mais vulneráveis. E esse é somente um exemplo, de um produto. Imaginem o impacto na cesta básica, nos outros diversos itens de consumo médios da população e daí por diante.

Se forem consideradas as classes econômicas C2 e D-E, que possuem renda média per capita inferior a mil reais, estão concentrados mais de 55% da população brasileira, que seriam diretamente impactados.

Mas, claro, para que isso acontecesse, seria necessário diminuir a dependência das pessoas nas iniciativas estatais em todos os seus níveis e isso é muito complicado de se fazer. Não se pode simplesmente deixar de dar o pão, o povo está, tal como o viciado, dependente desses programas, está letárgico, amortecido. Essa diminuição da estadodependência resultaria, consequentemente, em maior poder de compra, em maior nível de poupança e em iniciativas empreendedoras.

E, se o pensamento for um pouco mais longe, são essas as pessoas que decidem as eleições, são essas as pessoas que, pela dificuldade de acesso a melhores condições, possuem menor escolaridade ou condições de aprimorar-se intelectualmente e entender essa e outras questões conceituais.

 

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