Pesquisas eleitorais furadas

Pesquisa eleitoralHá algum tempo que as pessoas consideram as pesquisas eleitorais furadas, isso é, não correspondentes com o resultado da eleição. Mas, ainda assim, seguem os seus resultados e escolhem os ocupantes dos cargos eletivos por elas, por aqueles que estão “na frente” nas pesquisas divulgadas massivamente pelos veículos de comunicação em seus noticiários.

E, para falar sobre as pesquisas eleitorais, é preciso, primeiramente, fazer um breve nivelamento teórico sobre o tema, com algumas questões matemáticas incluídas, para poder, depois, criticar ou evidenciar as (possíveis) falhas no processo.

Antes de qualquer coisa, há um método, uma metodologia para a realização das pesquisas, com os seguintes passos:

  1. Estipulação dos objetivos geral e específicos
  2. Estabelecimento do método de pesquisa
  3. Escolha da metodologia de amostragem
  4. Definição de margem de erro, grau de confiança e tamanho da amostra
  5. Especificação do método de coleta
  6. Elaboração do instrumento de coleta de dados
  7. Realização da coleta dos dados
  8. Tabulação dos dados
  9. Emissão do relatório

Qualquer pesquisa em que se possa acreditar, que tenha validação científica, passar por estes passos, inclusive as que determinam os remédios que você utiliza para realizar tratamentos, os mais diversos.

As pesquisas que foram apresentadas no dia 01/10/2022 (IPEC e Datafolha, como relatam diversos meios de comunicação online), com o provável resultado do primeiro turno das eleições, seguiram esse mesmo roteiro. Cheguei até mesmo a analisar o conteúdo do descritivo delas.

A disparidade entre o apontado pelas pesquisas e o resultado real das urnas foi, novamente, um desastre, um erro abissal das pesquisas, que indicaram – até – a provável eleição de um dos candidatos já em primeiro turno, com uma diferença em torno de 15 pontos percentuais entre o primeiro e o segundo colocado (52% x 37%), obviamente com as margens de erro (2%) em seus potenciais máximos a mais para um e a menos para o outro. Se o caminho fosse ao inverso (mínimo para o primeiro e máximo para o segundo), esta diferença cairia para 7 pontos percentuais (48% x 41%), mais parecido com o que realmente ocorreu, uma diferença em torno de 5 pontos percentuais entre os dois, ao final da apuração do primeiro turno.

Antes de prosseguir, é preciso pontuar, também, que pesquisas de opinião, só mostram uma tendência, e não uma realidade. As pesquisas de opinião não conseguirão, nunca, retratar fielmente o comportamento de um consumidor ou, neste caso, de um eleitor, pois muitos são os fatores que podem interferir no seu comportamento de escolha por este ou aquele produto (neste caso, candidato).

E, a partir de agora, aponto as partes em que podem estar ocorrendo as falhas no processo delas.

Ambas, conceitualmente, estão corretas, porém sempre há onde melhorar, certo? Principalmente para que não fiquem caracterizadas como pesquisas eleitorais furadas.

Meu primeiro ponto de observação (e opinião) é sobre o item 3 da lista, isto é, escolha da metodologia de amostragem.

Ambas optam pela metodologia probabilística estratificada, o que é correto, porém os estratos podem estar mal compostos, isto é, mal selecionados, não retratando a diversidade real do povo brasileiro em seus diversos espectros e nuances.

Esta definição poderia ser revista, melhorando o detalhamento dos diversos estratos a serem buscados pelos entrevistadores.

As duas pesquisas divulgadas na data, utilizaram como critério matemático, a margem de erro de 2% e o grau de confiança de 95%.

O que querem dizer essas coisas:

MARGEM DE ERRO é uma variação possível caso a pesquisa seja replicada em outras amostras, isto é, se outras pessoas fossem selecionadas para responder as mesmas questões.

O GRAU DE CONFIANÇA evidencia que, se a pesquisa for replicada 100 vezes, em 100 públicos diferentes, terá um resultado dentro desta margem de erro em 95 das vezes. Essa informação também tem a ver com o número de desvios padrões utilizados. Neste caso, são 2.

Isso quer dizer, também, que 95% dos dados se encontram em até 2 desvios padrões (para mais ou para menos) da média, em uma distribuição normal, como mostra a figura abaixo.

Curva Normal

A curva normal mostra, pelo menos, 3 desvios padrões, que determinam a probabilidade de as respostas dos entrevistados estarem dentro de uma distância da média.

A diferença entre o grau de confiança e o 100% é chamado de Erro Amostral.

Essas informações também são necessárias passar por este pequeno alinhamento teórico, pois são importantes na outra questão que (sempre) tenho questionado e debatido, inclusive com professores de estatística.

As variáveis margem de erro e grau de confiança impactam diretamente na definição do tamanho da amostra, isto é, na quantidade de pessoas que serão entrevistadas, dentro dos estratos estabelecidos anteriormente.

Para se determinar o tamanho da amostra “n” (quantidade de elementos entrevistados), com base nos elementos apresentados, utiliza-se a equação a seguir:

Fórmula para cálculo do tamanho da amostra

Fórmula para cálculo do tamanho da amostra, a partir do erro amostral e da margem de confiança.

Onde “e” é a margem de erro (em absoluto), “p” é a probabilidade favorável (no caso, 50% ou 0,5), Zc é conseguido pela margem de confiança (95%), que é substituído por 1,96.

Realizando-se os cálculos, o número de entrevistas a ser realizado é 2.401.

Quer dizer, matematicamente, os institutos de pesquisa estão entrevistando a quantidade de eleitores suficientes para apontar o comportamento da população como um todo no resultado do processo eleitoral, pois o IPEC entrevistou 3.008 pessoas e o Datafolha, 12,8 mil pessoas, sendo que o IPEC realizou a pesquisa em 183 municípios e o Datafolha, em 310.

E, como ainda, superando o número mínimo determinado, temos pesquisas eleitorais furadas?

Mesmo um dos institutos utilizando uma amostra de 12,8 mil pessoas, ainda não são suficientes para inferir o resultado ao total.

São 5.570 municípios e mais de 156 milhões de eleitores, um universo muito diverso, de norte a sul e de leste a oeste. O Brasil possui muitos contrastes, muitas singularidades.

Por isso, uma amostra maior e mais distribuída pode ser uma das soluções, em conjunto com a melhor composição dos estratos utilizados.

Há estrato por faixa etária, por faixa de renda, por grau de escolaridade, por gênero, por crença religiosa e por etnia.

Impossível relatar o comportamento de toda a nação, com todas essas nuances, utilizando apenas menos de 10% dos municípios.

Numa conta rápida, 12,8 mil pessoas em 310 municípios perfaz uma média de 41 pessoas por município, o que, em minha opinião, é ridículo, pífio.

Esses cálculos, paradoxos e axiomas são válidos em muitos tipos de pesquisas, mas, cada vez mais, mostram-se ineficazes quando se trata de pesquisa eleitoral.

Dizer que uma amostra de 2.400 elementos é suficiente para inferir o resultado de uma pesquisa qualquer desde que desconhecido o total da população é insuficiente neste caso, sendo necessária uma revisão dos padrões utilizados.

É o mesmo erro que incorreu a Coca-Cola, quando do lançamento da New Coke, em 1985, jogando milhões de dólares no lixo, por acreditar em uma pesquisa de opinião que seguiu os protocolos existentes e os paradigmas existentes.

O resultado desagradou, jogaram a produção fora e o investimento em comunicação para o lançamento e tiveram que voltar para a Classic Coke e, ainda por cima, investindo muito mais em comunicação para reconquistar os clientes.

Pensem o mal que essas pesquisas podem causar a um país a partir do que aconteceu a uma empresa.

Para finalizar, um resumo para evitar as pesquisas eleitorais furadas:

  • Refinamento dos estratos
  • Maior universo amostral
  • Maior número de cidades
  • Maior número de regiões do país

Ainda é preciso lembrar aos eleitores que as pesquisas mostram tendências e não realidades. Mostram um pedaço e não o todo e, por não serem censitárias, estão propensas ao erro.

Por fim, um último conselho, agora voltado aos meios de comunicação, que se atenham aos fatos principais e não ao sensacionalismo. Isso também corrói a democracia.

Esta é a minha opinião.

Se você tiver alguma sugestão, opinião ou dúvida, você pode entrar em contato pelo formulário de contato, pelo WhatsApp ou enviar um e-mail diretamente para site@marciokarsten.pro.br.

2 thoughts on “Pesquisas eleitorais furadas”

  1. Deveria proibir pesquisas eleitorais oficiais registradas no TSE, TREs, e tam bem divulgação nas mídias.
    Estimulam eleitores sem rumos e sem noção a votar em A ou B.

    1. Olá, João.
      Muito obrigado pela sua participação e comentário.
      Não penso que proibir seja a melhor opção, corrigir seria o mais interessante. São institutos grandes e (até que se prove o contrário) sérios.
      Além disso, a pesquisa mostra o retrato daquelas pessoas entrevistadas.
      A partir do seu comentário, lanço um questionamento: por que os eleitores são “sem noção”, como você menciona? Não estaria faltando a eles “certa dose” de conhecimento político-eleitoral?
      Sempre há o que melhorar.
      Grande abraço e, novamente, obrigado.

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