O melancólico declínio, o misterioso desaparecimento e o glorioso triunfo do interacionismo simbólico

Gary Alan Fine

Gary Alan Fine

O interacionismo simbólico é uma das três grandes partes em que se divide a sociologia, de acordo com os livros textos da área e é uma abordagem sociológica distintamente americana, resultado (principalmente) das interpretações dos ensinamentos de George Herbert Mead e que tinha, inicialmente, lar acadêmico na Universidade de Chicago, no início do século XX e teve seu caráter alterado por um duro e longo processo de fragmentação, expansão, incorporação e adoção.

No início de seu desenvolvimento, seus temas centrais foram lucidamente apresentados e fáceis de estereotipar, havendo uma concordância geral acerca de sua ascendência imediata. Os primeiros adotantes contribuíram com importantes estudos empíricos e iniciaram o processo de exploração de novos modelos de crítica cultural e social.

Um outro grupo, por sua vez, enfatizava as premissas testáveis do conceito de Mead sobre o self em seu contexto. Esta cisão inicial culminou na divisão do interacionismo entre a “Escola de Chicago” e a “Escola de Iowa”, uma primeira fragmentação.

Por servir como um lar para os descontentes com a sociologia, tem suas crenças centrais esmaecidas, apesar de certos elementos centrais continuarem estanques, como as três premissas de Blummer: (1) que conhecemos as coisas por seus significados; (2) que os significados são criados pela interação social; e (3) que os significados mudam com a interação.

Embora limitada em conteúdo e estilo inicialmente, os interacionistas desenvolveram conceitos que se conectam com as demandas estruturais e da macrossociologia e a outros campos do conhecimento, tais como: a teoria do caos, a pesquisa sobre usos e gratificação, as teorias do desenvolvimento civilizacional. Todas essas aberturas marcam a extensão de sua abordagem à ampla envergadura do conhecimento acadêmico, sendo seus adotantes convictos de que essa perspectiva contribui com uam nova dimensão aos tópicos tradicionais.

A combinação de diversos tratamentos teóricos de ação e estruturas, convoca os interacionistas a incorporar outros modelos à perspectiva inicial, sugerindo uma ausência de fortaleza, o que pode comprometer (fragmentar) a coerência dos estudos, embora uma abordagem pragmática possa encontrar neste caldo um elo de sustentação.

Dentro do interacionismo encontram-se análise estatística, experimental, análise secundária de dados de survey, tratamentos teóricos fundados em crítica literária, análise conversacional de inspiração etnometodológica, teoria social europeia e sociologia aplicada de relevância política.

Porém esta adoção não é uma via sentido único. Ao passo que o interacionismo adota ferramentas e metodologias de outros, os outros também o fazem em relação ao interacionismo, criando uma perspectiva muito fragmentada internamente e com muitos se apropriando dela. Isto estreita a diferença entre os que se identificam com o interacionismo e os outros que não o fazem, apesar de aceitarem suas premissas básicas.

Este momento torna evidente um conjunto de debates acadêmicos contemporâneos acerca do interacionismo simbólico, sobretudo nos temas em que ele pode ser mais significante:

  • O debate sobre a relação macro-micro na sociologia;
  • O debate sobre agência/estrutura;
  • A divisão entre realistas sociais e interpretacionistas.

Na visão do autor, a importância das escolas do conhecimento também se sustentam no poder das linhas de pesquisa. Com relação ao interacionismo simbólico, essas são, as mais significativas:

  • Teoria da coordenação social;
  • Trabalho emocional e experiência;
  • Construcionismo social;
  • Criação da individualidade (self);
  • Macrointeracionismo; e
  • Interacionismo de relevância política.

O autor, então, retoma a questão título do artigo, o triplo paradoxo: como pode o interacionismo estar simultaneamente num estado de morte, desaparecimento e triunfo?

Com relação ao declínio (morte), é categórico: “não há evidência de declínio na interação simbólica: a teoria não foi descartava como velha, irrelevante, incoerente ou inútil” (p. 277). Para o autor, o declínio é resultado da fragmentação e da sensação de que poucas crenças (pilares) essenciais são aceitas em escala universal. No sentido do desaparecimento, o artigo aponta que ainda há periódicos, organizações e pessoas que adotam o rótulo e que, portanto, não há de desaparecer, sendo necessário, por sua vez, a criação de um centro, um núcleo para manter viva a chama.

O autor finaliza com o triunfo do interacionismo simbólico, observando que os conceitos da escola se tornaram, em grande parte, os da própria sociologia, sendo que “cada vez mais autores de fora estão tratando de seus temas e cada vez mais autores de dentro estão extrapolando suas fronteiras” (p. 278), sendo este um clube amistoso e animado, que possibilita o descobrimento de novas endogamias, a realização de mais intercâmbio e mais interação.

Dúvidas ou sugestões, entre em contato.


Referência

FINE, Gary Alan. O melancólico declínio, o misterioso desaparecimento e o glorioso triunfo do interacionismo simbólico. In: CALDAS, Miguel P.; BERTERO, Carlos Osmar (Coord.). Teoria das organizações. São Paulo: Atlas, 2007, Cap. 11, p. 257-288.


Resumo confeccionado durante o programa de mestrado da UDESC/ESAG

Disciplina: Estudos Organizacionais
Professor: Dr. Mauricio C. Serafim