Grande parte das atribuições da direção das organizações é conhecer (ou entender) o ambiente em que está inserido. Em busca deste objetivo, cria mecanismos de interpretação das informações, influenciado por alguns fatores como a natureza da resposta procurada, as características do ambiente, a experiência de quem coleta as informações (pesquisador), e a metodologia empregada neste processo.
Esta atividade é essencial devido à complexidade que tomaram os sistemas organizacionais com o tempo, e informações devem ser obtidas, tratadas e processadas para que sejam tomadas as escolhas e as decisões da maneira mais acertada possível.
Os autores se baseiam em quatro pressupostos para embasar o artigo:
- As organizações são sistemas sociais abertos que processam informações do ambiente;
- As organizações não têm mecanismos separados dos indivíduos para estabelecer objetivos, processar informações ou perceber o ambiente;
- Os gestores do nível estratégico formulam a interpretação da organização;
- As organizações diferem sistematicamente no modo ou no processo pelo qual interpretam o ambiente.
Mas afinal, o que é interpretação? A interpretação é o processo de tradução dos eventos que cercam a organização, o desenvolvimento de modelos para compreendê-los, de desvendamento de sentido e de montagem de esquemas conceituais entre os gestores-chave. Essa interpretação acontece em um processo cíclico que envolve três fases principais (rastreamento, interpretação e aprendizagem).
Por um modelo de interpretação organizacional
A geração do modelo sugerido pelos autores aborda dois novos pressupostos: (1) o quanto a organização acredita que o ambiente possa ser analisado; e (2) a influência da organização neste ambiente.
Com relação ao primeiro pressuposto, a organização pode, por um lado, presumir que o ambiente externo é concreto, que os eventos e processo são sólidos, mensuráveis, determinantes. Neste caso, os gestores usarão de pensamento lógico e linear, buscando dados e soluções que sejam claros. Por outro lado, quando a organização presume que o ambiente externo é não analisável, a chave é construir uma interpretação razoável que torne a ação prévia sensível e sugira os próximos passos. Desta feita, o processo de interpretação (análise) é mais pessoal, ad hoc.
O segundo pressuposto é inerente ao grau de atuação das organizações neste ambiente. Se as empresas são mais ativas, possuem departamentos e mecanismos para pesquisar e analisar o ambiente, são chamadas de realizadoras de experimentos, o que as leva a desenvolver interpretações bem distintas das organizações que se comportam de maneira passiva que, por sua vez, aceitam toda e qualquer informação que o ambiente lhes forneça, não buscam ativamente uma resposta no ambiente e o interpretam dentro dos limites aceitos.
Com base nestes pressupostos (e suas categorizações), os autores desenvolveram o seguinte Modelo das modalidades de interpretação organizacional, baseado em quatro categorias:
As organizações criadoras (enacting) possui uma estratégia intromissiva e presume que o ambiente não é analisável. Assim, reúne informações, tentando novos comportamentos e observando o que acontece.
As organizações de descoberta são, também, intromissivas, porém procuram detectar a resposta correta, em um ambiente analisável, utilizando de pesquisas de mercado, análises de tendência e previsões para predizer problemas e oportunidades.
As de visão condicionada não são intromissivas, porém consideram o ambiente analisável. Confiam em processos convencionais de coleta de dados e as interpretações são desenvolvidas dentro de fronteiras tradicionais.
Por sua vez, as de visão não dirigida não confiam em dados sólidos, objetivos, porque presumem que o ambiente não é analisável e não são intromissivas. Dão preferência a informações obtidas em contatos pessoais e encontros causais de informação.
O enquadramento das organizações neste modelo proposto pelos autores possui reflexos em outras características organizacionais, como no rastreamento e nas características dos dados buscados, ao processo de interpretação dentro da organização e, também, na estratégia e nos processos de tomada de decisão.
Apesar de todo o trabalho realizado, os autores proclamam, ao final, que “todo modelo é por si mesmo uma interpretação um tanto arbitrária, imposta a uma atividade organizada. Todo modelo envolve compensações (trade-offs) e pontos fracos inevitáveis” (p. 253) o que, de certa forma, serve de alerta aos afoitos a tomarem as devidas precauções com relação à interpretação das informações, uma atividade social humana complexa e que, talvez, não se preste a uma mensuração precisa.
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Referência
DAFT, Richard L.; WEICK, Karl E. Organizações como sistemas interpretativos: em busca de um modelo. In: CALDAS, Miguel P.; BERTERO, Carlos Osmar (Coord.). Teoria das organizações. São Paulo: Atlas, 2007, Cap. 11, p. 235-256.
Resumo confeccionado durante o programa de mestrado da UDESC/ESAG
Disciplina: Estudos Organizacionais
Professor: Dr. Mauricio C. Serafim