Paradigma da complexidade e teoria das organizações: uma reflexão epistemológica

Maurício Serva

Graziela Aperstedt

Graziela Aperstedt

Partindo do princípio de que a Administração é uma ciência interdisciplinar, isto é, que ela se utiliza de conhecimentos oriundos de outras ciências para alargar e apurar sua problemática, enriquecer seus instrumentos conceituais e aperfeiçoar suas técnicas de investigação, os autores citam Chevalier e Loschak que enfocam três princípio para que isso ocorra: (a) uma abordagem integrativa; (b) instrumentos conceituais; e (c) meios de investigação.

Apesar deste reconhecimento, desde o seu início, a partir dos escritos de Taylor e Fayol sobre a administração científica, até mais recentemente, a administração tem baseado seus estudos no reducionismo, na incompetência de lidar com contradições e a não apreciação da subjetividade, permitindo a identificação de três questões que deveriam direcionar a reconstrução dos estudos organizacionais: (i) a intensificação da globalização e a revolução da base tecnológica; (ii) o deslocamento entre a economia real e a especulação financeira no nível mundial; e (iii) a importância de aproximar os estudos organizacionais das contribuições recentes no bojo da teoria da firma, num âmbito microeconômico.

Na visão dos autores, os novos estudos da administração deveriam considerar o emprego da racionalidade substantiva na gestão das organizações produtivas, o que abriria novos campos empíricos de estudo, sendo necessário avançar ao mesmo tempo a teoria e a sua prática, o que evidencia a emergente necessidade de uma reformulação epistemológica na teoria das organizações, se propondo como uma teoria viável.

Para os autores, uma das principais causas do “empobrecimento” dos estudos organizacionais foi o isolamento dos objetos de seu contexto e do contexto dos observadores, o que fragmentou a disciplinas e inviabilizou o diálogo entre as ciências.

A ascensão das teorias da comunicação deflagra a ideia da transdisciplinaridade, fomentada, também, pela paradigma da complexidade. Para Morin (1982), “é necessário considerar que sempre por trás da ordem e da organização, existe a desordem marcada pelas incertezas, ou seja, a organização não pode ser reduzida à ordem, embora a comporte e a produza” (p. 282).

A partir da compreensão de que para compreender o universo é necessária uma dialógica, um chamado de cada parte pela outra parte, cada uma precisando da outra, cada um inseparável do outro, cada um complementar ao outro, surge a compreensão de um novo mundo, passando pelo conceito de evento ou acontecimento e, principalmente, nas ciências humanas, a consideração da importância do indivíduo para a dinâmica social, que força/obriga trazer o indivíduo para o centro da discussão, como produto e produtor da realidade.

Serva, em estudo anterior, relacionar alguns temas a serem explorados sob a epistemologia da complexidade nas organizações: “1) o enriquecimento da percepção da relação ambiente-organização […]; 2) a compreensão da ‘contraprodutividade’[…]; 3) nas teorias da administração pública, o emprego da lógica paradoxal e da discussão do binômio autonomia-dependência na análise das esferas pública e privada que marcam o cotidiano das organizações e empresas públicas; 4) a consideração da desordem […] como dimensão inegável das organizações […]; 5) a análise das organizações de economia social, do terceiro setor, ou ainda das organizações ‘alternativas’ e ‘coletivas’” (p. 285).

Ao final os autores lembram que “a ciência não é dogma e está repleta de contradições, dúvidas e reflexões. E, enquanto parte do conhecimento, ela, a ciência, apresenta-se como um processo dinâmico que acaba evidenciando a limitação de pesquisadores e cientistas, haja vista a limitação em se dar conta dela” (p. 286).

Dúvidas ou sugestões, entre em contato.


Referência

SERVA, Maurício; DIAS, Taisa; ALPERSTEDT, Graziela D. Paradigma da complexidade e teoria das organizações: uma reflexão epistemológica. RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 50, n. 3, 2010.


Resumo confeccionado durante o programa de mestrado da UDESC/ESAG

Disciplina: Estudos Organizacionais
Professor: Dr. Mauricio C. Serafim

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