Comportamento administrativo

Herbert Simon

Herbert Simon

A obra de Herbert Simon versa sobre a tomada de decisões nas organizações. No recorte apresentado neste resumo, são abordados os seguintes temas:

  • No Capítulo 1: uma apresentação geral dos temas aprofundados no teor da obra;
  • No Capítulo 2: uma ressignificação da administração a partir da análise de seus princípios;
  • No Capítulo 4: as questões racionais e objetivas por trás da tomada de decisão.

No primeiro capítulo, o autor justifica o tema do livro a partir da premissa de que a administração é a arte de “conseguir fazer as coisas” cujo ato é antecedido pela decisão de que coisas fazer.

A partir do momento em que se decide o que se quer fazer, decide-se como será feito, o que implica em novas tomadas de decisões, geralmente orientado por uma finalidade. Essa sequência de finalidades combinadas formam um “planejamento ou projetação” (p. 4), necessário devido ao grande número de ações alternativas, que devem ser reduzidas a um número passível de análise.

A tomada de decisões está circundada por juízos de valor e de fato. Os juízos de valor são as relacionadas às finalidades últimas e as que se relacionam à implementação de tais finalidades são as de fato.

Devido ao grande número de decisões presentes no planejamento, é mister que se pense na hierarquia das decisões, que faz o encadeamento do processo, sendo o fim de um processo o início do consequente.

Sendo a administração uma atividade grupal, a empresa primeiro deve tomar decisões com relação ao comportamento do indivíduo dentro dela, tais como suas funções, a distribuição de autoridade e como deve agir quando solicitado.

Ao aceitar essa decisão prévia à sua contratação, o indivíduo aceita e segue determinado curso de ação e abandona outros, o que também é uma decisão, porém de caráter individual/pessoal.

A tomada de decisão na empresa tem como pilares as questões de coordenação, perícia e responsabilidade e, para que sejam adotadas e/ou executadas a organização utiliza as questões de autoridade, lealdade organizativa, eficiência, aconselhamento/informação e treinamento.

Ao encerrar o capítulo, o autor demonstra que na organização existem – pelo menos – três papéis fundamentais, ou seja, empresário, empregado e cliente, cada qual ligado à ela por motivações diferenciadas, sejam elas pessoais ou organizacionais, que devem estar em equilíbrio.

No segundo capítulo, o autor faz uma crítica aos princípios aceitos da administração, como segue:

  • Especialização: para o autor “não é uma condição de eficiência administrativa, mas sim uma característica inevitável de todo esforço grupal” (p. 22), sendo o problema real da administração “ especializar-se de maneira determinada de acordo com normas que levarão à eficiência administrativa” (p. 22);
  • Unidades de comando: para o autor, este princípio é incompatível com o da especialização, pois “o emprego da autoridade permite que se alcance um grau muito maior de eficiência na tomada de decisões do que seria possível obter se cada empregado no nível de operações tivesse que tomar todas as decisões relacionadas com sua missão” (p. 23), sendo que “sempre que duas ordens entrarem em conflito, deve haver determinada pessoa a quem cabe ao subordinado obedecer, devendo as sanções da autoridade serem aplicadas a ele apenas para assegurar a obediência a essa única pessoa” (pp. 25-26);
  • Alcance do controle: para o autor, o principal dilema acerca deste tópico é que “numa organização com muitas interrelações entre os seus membros produz, inevitavelmente, demoras excessivas, pois cada contato entre os membros da organização deve ser levado até um superior comum” (p. 28), não havendo, ainda, uma explicação ou referência teórica certa sobre a quantidade de níveis hierárquicos ou subordinados eficientemente ideal para cada encarregado (gestor ou gerente) da organização;
  • Organização por propósito, processo, clientela e área geográfica: como o autor expõe na obra, é muito difícil a empresa possuir uma orientação exclusiva nesta seleção, por questões praticamente óbvias – não se pode ter um propósito sem clientela ou clientela sem um processo que gere um produto.

Para o autor a principal dificuldade “surgiu do fato de querer-se tratar como princípios de administração coisas que são na realidade critérios para descrever e diagnosticar situações administrativas” (p. 37), sendo solução para isso, a utilização de “todos os critérios diagnosticadores importantes que sejam identificados; que cada situação administrativa seja analisada em função de todo o conjunto de critérios; que se efetue uma avaliação de determinar a importância relativa dos diversos critérios quando forem, como ocorre com frequência, mutuamente incompatíveis” (p. 37).

Simon, então, realiza um diagnóstico sobre a situação administrativa, principalmente no que se refere ao indivíduo na tomada de decisão e aponta três grandes limitadores a esse respeito:

  1. Os limites de capacidade, hábitos e reflexo;
  2. O limite dos valores e conceitos que finalidade;
  3. Pela extensão do conhecimento das coisas relacionadas com o trabalho.

O capítulo é encerrado com uma crítica ferrenha do autor aos escritos acerca de administração, colocando que “o que tem faltado à literatura administrativa não é nem teoria, nem estudos empíricos e descritivos. O que tem faltado, realmente, é uma conexão entre esses dois aspectos, de modo que a teoria possa servir de guia para o planejamento de estudos e experiências críticas, enquanto os estudos experimentais proporcionariam os testes rigorosos e corretivas da teoria” (p. 46).

No quarto, e último capítulo abordado neste resumo, Simon aborda o papel da racionalidade no comportamento administrativo, mais especificamente, no tocante à tomada de decisões.

Para o autor, a boa administração gera um bom negócio, o que, por dedução, traz lucratividade para a empresa – um dos aspectos de análise das empresas comerciais – sendo que, para tanto, devem ser tomadas algumas decisões racionais que levam ao estabelecimento de uma cadeia de meios e fins, colocando uma hierarquia nestes objetivos, em que “cada nível é considerado como um fim em relação ao nível mais baixo e como um meio em relação aos níveis superiores” (p. 65), sendo a hierarquia de meios e fins uma característica da organização e dos indivíduos.

Simon aponta que três precauções devem ser tomadas para que a hierarquia dos meios e fins não leve a conclusões errêoneas:

  1. Não expor incorreta ou incompletamente os fins a serem perseguidos, por não serem considerados os fins alternativos que poderiam ser alcançados pela escolha de um outro comportamento;
  2. Não se conseguir – nas situações reais – criar uma separação completa entre meios e fins, pois os meios alternativos são geralmente neutros quando se trata de valores;
  3. Evitar a tendência de não relevar adequadamente o caráter temporal no processo decisório.

Para o autor, ao se elaborar a hierarquia das decisões, deve-se considerar as diversas alternativas de comportamento, o tempo, o conhecimento, e o comportamento grupal. Para ele, “uma cadeia de meios e fins constitui uma série de antecipações que estabelecem a conexão de um valor com as situações que o realizam, e essas situações, por seu turno, com os comportamentos que as provocam” sendo que “qualquer elemento desse encadeamento pode ser meio ou fim, dependendo de sua conexão com a extremidade da cadeia correspondente a valores ou com a extremidade correspondente a comportamento” (p. 77).

Este resumo não estaria completo sem as derradeiras definições (ou caracterizações) dadas pelo autor aos tipos de decisão, quais sejam:

  • Objetivamente racional: quando representa de fato o comportamento correto para maximizar certos valores numa dada situação;
  • Subjetivamente racional: quando maximiza a realização com referência ao conhecimento racional do assunto;
  • Conscientemente racional: quando o ajustamento dos meios aos fins visados constitui um processo consciente;
  • Deliberadamente racional: quando a adequação dos meios aos fins tenha sido deliberadamente provocada;
  • Organizativamente racional: se orientada no sentido dos objetivos da organização; e
  • Pessoalmente racional: quando visa os objetivos do indivíduo.

Dúvidas ou sugestões, entre em contato.


Referência

SIMON, Herbert. Comportamento administrativo. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1971. Caps. 1, 2 e 4.


Resumo confeccionado durante o programa de mestrado da UDESC/ESAG

Disciplina: Estudos Organizacionais
Professor: Dr. Mauricio C. Serafim