As principais pesquisas e, por consequência, das teorias da administração analisadas pelos autores possuía enfoque no melhor e único modo de organizar as empresas em todas as situações.
A evolução dos estudos sobre o funcionamento das organizações mostra um cenário contrário ao estático estabelecido (ou tido) pelos pensadores anteriores, sendo que o conhecimento sobre o funcionamento da organização das empresas proporciona instrumentos úteis para a tomada de decisões mais sólidas, na atual complexidade (p. 19-20)
Lawrence e Lorsh definem organização como “um sistema aberto, no qual os comportamentos dos membros são inter-relacionados [e] os comportamentos dos membros de uma empresa são também interdependentes da organização formal, das tarefas a serem executadas, das personalidades de outros indivíduos e das regras não escritas relativas ao adequado comportamento de um membro” (p. 22-23).
Os autores identificaram quatro dimensões que diferenciam as organizações nos modos de pensar e agir:
- A orientação dirigida a metas particulares;
- A orientação relativa ao tempo;
- A orientação interpessoal;
Uma quarta forma utilizada para analisar as organizações no estudo dos autores foi com relação ao formalismo da estrutura.
Com relação à diferenciação foi analisada a diferença entre a orientação cognosciva e emocional dos dirigentes e, ainda, estudaram a integração, definida como “a qualidade do estado de colaboração existente entre departamentos necessários para realizar a unidade de esforço de acordo com as exigências do ambiente” (p. 28).
Com relação a integração, os autores se referenciam a estudos anteriores, que desconsideravam a variável humana (sentimentos e emoções) ligados à colaboração, descartando a capacidade interpessoal requerida para a realização da integração, criando entraves à resolução de conflitos.
Os pesquisadores e teóricos antigos tendiam a desconsiderar que “diferentes condições externas poderiam exigir diversas características organizacionais e padrões de comportamento no interior da empresa eficiente” (p. 31).
Para os autores, os melhores administradores (por conhecimento ou seleção natural), têm notado que não existe um modo único e melhor de se organizar uma empresa, porém alguns princípios permanecem inalterados:
- As pessoas querem fazer algo;
- As pessoas têm necessidade de contato com outros;
- Os administradores têm desejo de exercer controle sobre outros.
Assim, as empresas, além de terem que se adaptar ao cenário complexo, devem também atender e possibilitar a realização dessas exigências pessoais.
Para contribuir para a geração de conhecimento acerca da teoria contingencial, os autores recorrem a seis estudos em sua obra:
- Burns e Stalker: examinaram cerca de 20 firmas industriais na Inglaterra, focando o relacionamento da empresa com as facetas do cenário externo. Em suas pesquisas, ficaram impressionados com os conjuntos de métodos e processos administrativos (evidentemente diferentes) que encontraram.
- Woodward: examinou a quase totalidade das empresas com mais de 10 funcionários de uma área geográfica específica (South Essex), realizando um exame detalhado de suas características, com particular atenção às práticas administrativas, onde conseguiu identificar três agrupamentos relacionados às técnicas de produção e a complexidade dos sistemas produtivos: (1) produção por unidade ou por pequenas quantidades; (2) produção em massa ou em grande quantidade; e (3) produção ou processo contínuo. A principal conclusão deste estudo foi que “o sucesso econômico estava associado ao uso de práticas administrativas que convinham de maneira especificada à natureza das várias técnicas de produção” (p. 215).
- Fouraker: iniciou seu estudo interessado na maneira como as organizações tratam os conflitos e tomam decisões econômicas e deduziu logicamente o modo como dois tipos opostos de empresas responderiam a diferentes situações de escolha impostas pelos respectivos ambientes: “(1) a organização ‘L’, constituída por uma administração altamente independente, motivada por suas próprias aspirações […]; e (2) o tipo ‘T’ constituído por uma administração receptiva e membros independentes”.
- Chandler: realizou um estudo sobre a evolução das grandes empresas sob a tese de que a estrutura da organização decorre das decisões estratégicas pelas quais é guiada. As principais conclusões do estudo são que as novas opções estratégicas surgem de alterações ambientais (expansão de volume, crescimento mediante dispersão geográfica, novos tipos de funções) e o ritmo de transformação do ambiente criavam pressão em favor de uma modificação estratégica e posteriormente estrutural.
- Udy: sociólogo, estudou organizações não industriais conhecidas. Seu trabalho indicou que “os fatos da tecnologia por si mesmos têm uma influência própria e persistente sobre a estrutura de empresas viáveis” concluindo que “organizações que se dedicam a diferentes tarefas devem ser diferentemente estruturadas”. Suas descobertas “são particularmente importantes para o projeto de qualquer empresa internacional moderna que opere em muitos ambientes culturais” (p. 223)
- Leavitt: estudou a forma como a comunicação ocorre nas organizações e qual o impacto da forma de sua distribuição pode interferir no resultado da ação, na integração na equipe e na absorção do conteúdo. A principal conclusão de seu estudo foi que “é preciso diferentes tipos de organizações para realizar eficientemente diferentes tipos de tarefas” (p. 226).
Além destes elementos, a pesquisa de Lawrence e Lorsh abordou a questão da solução de conflitos e a relação entre os estados de diferenciação e os de integração.
Sobre a solução de conflitos, com base na literatura presente, havia a útil distinção em duas classes:
- Quando uma das partes tem um interesse em um certo assunto tal que qualquer ganho para uma delas faz-se a expensas da outra, cuja estratégia mais utilizada é a barganha; e
- Um problema ao qual é possível dar muitas soluções, “em que está implícito o acordo entre as partes no que se refere às finalidades básicas em algum nível superior de abstração” (p. 229)
Apesar de poucas conclusões relacionadas às questões de diferenciação e integração, os estudos de Lawrence e Lorsh possibilitou a identificação da relação entre os tipos de predisposições que os indivíduos trazem consigo para a realização das tarefas e as consequências das características empresariais sobre estes enquanto indivíduos, baseados em três estudos:
- Fiedler: teve como conclusão geral que “as diferentes espécies de estilos de liderança são valiosos no desempenho superior de grupos em condições diferentes” (p. 231);
- Vroom: verificou que os empregados “tinham certos traços de personalidade que os predispunham a responder […] positivamente ou de modo neutro à administração participante” (p. 232);
- Turner e Lawrence: em seu estudo identificou dois grupos, com opiniões distintas acerca do trabalho. O primeiro “considerava-o como um meio desagradável para chegar a um fim desejável” e o segundo, “tendia a ver o trabalho como uma finalidade em si, como uma oportunidade para o indivíduo expressar-se mediante o exercício de uma complexa habilidade”. O principal resultado foi a observação da relação de um atributo da empresa (complexidade das tarefas industriais) e a resposta dos empregados “como fator contingente relativo às predisposições básicas dos operários” (p. 233).
Para os autores, os estudos levam a melhoria na análise das organizações e que seus estudos refletem um certo número de estudos empresariais modernos, indicando um caminho a seguir pelas empresas no cenário cada vez mais complexo, o que não somente diminuirá “a confusão da teoria da empresa, mas terá consideráveis implicações no projeto e na administração de organizações complexas” (p. 235)
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Referência
LAWRENCE, Paul; LORSH, Jay. As empresas e o ambiente. Petrópolis: Vozes, 1973. Cap. I (p. 11-38) e VIII (p. 209-235).
Resumo confeccionado durante o programa de mestrado da UDESC/ESAG
Disciplina: Estudos Organizacionais
Professor: Dr. Mauricio C. Serafim